*Por Ángel Rico
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Senhor Primeiro-Ministro:
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O motivo de fazer pública esta carta, não é a falta de respeito
relativamente à sua pessoa nem ao cargo que V. Exa. representa. Fazer públicas
as seguintes análises motiva a credibilidade de que o futuro de Portugal é suficientemente importante
para que não dependa de um único cidadão.
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Nas minhas habituais estâncias em Portugal,
-- dois ou três dias em cada semana--, cheguei a uma conclusão inquietante:
--a maioria dos cidadãos portugueses tem a ideia de que V. Exa. e só V. Exa., Senhor Primeiro-Ministro tem a culpa de
todos --TODOS!-- os males que os afligem, sejam eles familiares, profissionais,
ou de saúde --o que, obviamente não é justo.
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Na entrevista que V. Exa. deu à SIC, no passado dia 15 de abril, manifestou,
e cito textualmente: “O que importa é que se for preciso pagar um preço
elevado para salvar o País da bancarrota eu não me importo de o pagar".
Nessa forma de atuar, perante a opinião pública, os cidadãos só vêm “a retórica
do político perdedor” e com o devido respeito, considero que essa atitude é
errônea.
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Quando tento fazer compreender aos portugueses, com quem habitualmente me
reúno para falar de Portugal, sobre
a necessidade da austeridade atual, utilizo o seguinte exemplo: --a situação do
país é semelhante à de um doente, bastante mal, que se coloca nas mãos de um
médico de confiança. Este médico, após uma análise exaustiva da situação e
depois de aplicar todos os seus conhecimentos em benefício do doente, de acordo
com o Juramento de Hipócrates, utiliza toda a sua sabedoria para salvá-lo. Como
tal prescreve-lhe uma terapêutica adequada à patologia apresentada, e caso seja
necessária a extirpação de algum órgão por apresentar enfermidade degenerativa,
este médico não hesitaria em fazê-lo, com o objetivo de salvar a vida do seu
paciente. Finalmente, se reuniria com os familiares do doente e lhes
transmitiria que a vida do seu ente querido já não “corria perigo”. Mas nunca,
--NUNCA!-- pediria desculpas por ter usado um método terapêutico expedito, mas
efetivo, para salvar a vida de uma pessoa em risco de falecer.
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Este símile médico, serve para fazer-lhes entender aos cidadãos “Almeida”, “Gomes”, “Silva” ou “Pereira”, que a situação portuguesa é
muito idêntica à desse hipotético doente e que o mais importante, é salvar o
futuro do país e dos seus cidadãos. Portanto, não é necessário pedir desculpas.
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Uma parte importante da cidadania portuguesa vive debaixo da síndrome de
amnésia dissociativa coletiva, o que lhes impede recordar – quem e como se
levou Portugal à situação de bancarrota, sendo essa a situação em que o seu
Governo Senhor Primeiro-Ministro
encontrou o país – e, portanto custa-lhes a crer em certas mensagens políticas,
impossíveis e inviáveis na atual conjuntura. Mensagens, que perpetram alguns
representantes de partidos políticos, baseando toda a sua estratégia em
primeiro lugar, em oferecer propostas impossíveis e em segundo lugar, em
culpar-lhe a si Senhor Primeiro-Ministro,
e ao seu governo, de todos os males dos cidadãos, recordando aquela situação de
Itália nos anos setenta do século
passado, em que se repetia a seguinte frase: “piove, porco Goberno”!
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Aquela reação tão italiana é também muito portuguesa na atualidade. Os
portugueses têm de fato dificuldade em entender que os seus representantes
políticos não pratiquem a mesma austeridade a que “obrigam” os seus cidadãos.
Por isso, decidiram apresentar publicamente todas as suas exigências
insatisfeitas. Todas ao mesmo tempo, indiscriminadamente, provocando uma
situação de descontentamento geral.
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Os portugueses, Senhor Primeiro-Ministro, necessitam que alguém lhes olhe
nos olhos e lhes explique a realidade da situação. Contudo, é urgente aplicar
um plano pedagógico nacional, que mostre aos portugueses uma realidade não
maquilhada, para que não acreditem nas perorações daqueles que ajudaram a
aumentar o mal-estar que hoje afeta uma grande parte da sociedade, nem nos que
propõem alternativas simplesmente quiméricas. O povo necessita ser consciente
de que o Governo é uma equipa que sabe o que tem de fazer para superar os
atuais desafios e, que o fará, porque caso contrário, cumpre-se o adágio de
que: --pior do que sofrer de uma doença grave, é não querer saber que se padece
dessa doença--.
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É possível Senhor Primeiro-Ministro, que nas próximas eleições ao Parlamento Europeu se obtenham os
resultados que as sondagens publicam e que a opinião pública prevê. Mas e
depois...?
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Sou da opinião que: --uma possível coligação governamental de esquerda,
seria mal para o futuro de Portugal--, por isso, é indispensável começar a
falar aos cidadãos olhos nos olhos, como um médico (permita-me voltar a usar o
símile) falaria ao seu paciente, após uma cirurgia que garantisse a sua
sobrevivência. Sem complexos e sem ter de pedir desculpas pelo tratamento
aplicado.
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Praticar com o exemplo! Permita-me Senhor Primeiro-Ministro, falar-lhe desta questão. Os cidadãos conhecem o
exemplo do Primeiro-Ministro Britânico, quando viajou esta Páscoa à Ilha de
Lanzarote numa companhia aérea “low-cost”, para
passar uns dias de férias com a família. Atuou como uma família normal, sem
qualquer tipo de privilégios especiais. Almoçou e jantou em restaurantes
normais, rodeado de gente normal, sem exigir um tratamento especial. Por isso
os portugueses necessitam ver – que se pratica com o exemplo – Se V. Exa.
Senhor Primeiro-Ministro apresenta exemplos próprios, louváveis e quotidianos,
toda a hierarquia do Estado, desde o Governo a todos os “Serviços Periféricos”
terão que imitar-lhe. E aos cidadãos não lhes parecerá “tão difícil” aplicar
sobre as suas vidas os necessários sacrifícios.
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Além disso, se entenderia com simpatia uma futura Lei Eleitoral que fixasse
o número de Deputados na Assembleia da
República, reduzindo ao mínimo esse número, algo que está contemplado no artigo 148 da Constituição da República
Portuguesa. Embora possa parecer que uma redução de 22% é pouco, os
portugueses pensariam, --que se tem que
começar por alguma coisa, quando chega à hora de poupar na estrutura do Estado.
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Chegados a esta situação, estamos dispostos a colaborar na referida
atividade pedagógica política, mas corresponde a V. Exa. como máximo
responsável do partido que sustenta o Governo e, como Primeiro-Ministro, tomar essa decisão. Se hipoteticamente a decisão
fosse positiva: -- Quando começaríamos--?
…Tenho dito!
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* Presidente do Instituto Hispano
Luso.
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