*Por
Ángel Rico
Por natureza, o ser humano ambiciona
obter bens e serviços que se deparam num escalão superior àquele a que
socialmente se encontra. Neste sentido, pensamos que as ofertas de turismo
devem ser de qualidade média/alta, para poderem captar um turismo específico e,
portanto, um turismo com uma capacidade de aquisição acima da média.
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Os últimos inquéritos sociológicos
realizados com turistas espanhóis, através do Instituto Hispano-Luso, revelaram dados interesantes que devem ser
tidos em conta por parte da indústria turística portuguesa, a saber:
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1.- Os turistas espanhóis que, no passado, procuraram
as praias do Este da Península Ibérica
para passar férias, agora podem contar com outra alternativa, até ao momento desconhecida: o
Oeste, que fica a uma distância semelhante a partir de Madrid. É, portanto, necessário que estas propostas relativamente a
Portugal sejam conhecidas pelos
potenciais turistas espanhóis.
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2.- Por questões
políticas, algumas regiões do Norte peninsular, converteram-se em “antipáticas”
para numerosos turistas do resto de Espanha,
que agora poderão considerar novas propostas turísticas, inclusive de maior qualidade,
relacionadas com Praia, História e Cultura em Portugal. E não só no que se refere ao turismo estival, mas também,
em pontes, feriados e mesmo durante todo o ano.
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3.- É indiscutível que, no mercado turístico, os visitantes
dirigem-se maioritariamente aos lugares de maior interesse e geográficamente mais
próximos. Tal significa que o turismo espanhol é potencialmente mais interesante
para Portugal do que, por exemplo, o
turismo alemão ou o sueco. Portugal
tem uma localização de excelência, uma vez que está a quatro horas de automóvel, desde o
centro da península.
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4.- O público-alvo são pessoas com idades
compreendidas entre os 35 e os 60 anos, reflectindo um potencial de 17 milhões
de espanhóis.
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A História
que os dois países têm em comum deve ser um elemento fundamental para fomentar
o intercâmbio turístico-cultural, em que convém recordar o seguinte: em 1560, Felipe I de Portugal (Felipe II de Espanha) ordenou:
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--“para evitar danos e inconvenientes aos caminhantes, de não encontrar nas mesões onde vão a pernoitar, os mantimentos necessários, e por isso ter de os ir buscar fora, vindo como vêm cansados…, ordenamos… que nas mesões destes reinos (Espanha e Portugal) possam ter e vender para o provisionamento e mantimento dos caminantes (…) as coisas de comer e beber, tanto para as suas pessoas como para os seus animais”--
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A História deve ser assim considerada como uma atracção turística actual para ambos os países.
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--“para evitar danos e inconvenientes aos caminhantes, de não encontrar nas mesões onde vão a pernoitar, os mantimentos necessários, e por isso ter de os ir buscar fora, vindo como vêm cansados…, ordenamos… que nas mesões destes reinos (Espanha e Portugal) possam ter e vender para o provisionamento e mantimento dos caminantes (…) as coisas de comer e beber, tanto para as suas pessoas como para os seus animais”--
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A História deve ser assim considerada como uma atracção turística actual para ambos os países.
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Num futuro próximo, não podemos
descartar novas propostas turísticas, apoiadas
pela história conjunta luso-espanhola como, por exemplo, o comboio
turístico Lisboa-Toledo / Toledo-Lisboa
que, na época alta (Maio-Setembro),
partiria dessas cidades com paragem nas localidades de maior interesse,
situadas ao longo da rota – Lisboa, Santarém, Entroncamento, Marvão,
Cáceres, Plasencia e Talavera de la Reina –, onde os turistas, com o
mesmo bilhete de comboio, poderiam descer em cada estação, conhecer a cidade,
hospedarem-se e retomar a viagem no dia seguinte.
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Para a indústria turística portuguesa é
importante conhecer as exigências dos potenciais turistas. De forma subtil, há
que saber oferecer aquilo que os turistas querem que se lhes ofereça, mas de
maneira diferenciada – mais do que esperar que os turistas aceitem as propostas
de cada empresa turística de forma individual, semelhantes a muitas outras.
Para tal, devem adaptar-se as mensagens, os serviços, os equipamentos e os
pacotes turísticos às exigências de um mercado seguro.
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A estratégia de captação turística deve
ser conjunta entre todas as empresas que queiram atrair os turistas
espanhóis. Sem propostas conjuntas, não se poderão obter sucessos razoáveis de
captação e de fidelização de um turismo com capacidade de aquisição superior à
média.
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Os potenciais turistas existem, as
propostas da indústria portuguesa são amplas e variadas. Agora há que
diferenciá-las aumentando o seu nível, de modo a que a gastronomia e a oferta
de completas cartas de vinhos portugueses e espanhóis, possam ser uma atracção
adicional, que distinga o turismo que se quer captar daquele de “mochila,
sanduíche e lata de sumo” que proporciona menos receitas por cada euro
investido em promoção.
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De igual forma, para os turistas que
desejem desfrutar de bens e serviços que se encontram a um nível superior
àquele que socialmente ocupam, é necessário que existam entidades turísticas
que se atrevam a oferecer os serviços com a qualidade e o prestígio que os
turistas esperam receber e por eles pagar.
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Através do Instituto Hispano-Luso estamos dispostos a fomentar o intercâmbio de
turistas entre Espanha e Portugal, mas precisamos de saber: que
empresas portuguesas estão dispostas a liderar uma proposta turística de alto
nível?
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…He
dicho!
.
*Es,
Presidente do Instituto Hispano-Luso
-Artigo publicado na revista "Turismo de Lisboa" (Abril de
2013)-