*Por Ángel Rico
.
Tive a oportunidade de ver com atenção a entrevista que realizou ao Primeiro-Ministro
português, Pedro Passos Coelho, o ambicioso e também aspirante a
“ministro-primeiro”, José Gomes Ferreira, na SIC. Devo dizer que
o cenário me pareceu impecável, com o Primeiro-Ministro sentado em
frente do ansioso Gomes Ferreira, somente com as bandeiras de Portugal
e da União Europeia, por detrás. A forma de atuar do político fez-me
recordar a esses tenistas que se limitam a devolver e devolver bolas desde o
fundo do campo, sem arriscar uma aproximação à rede para esmagar o adversário.
.
O protagonista desnecessário, --o
veemente Gomes--, com um monte de
papeis onde estavam as suas perguntas, demonstrou uma e outra vez, que mais do
que lhe importarem as respostas do Primeiro-Ministro,
ás suas perguntas, o que realmente lhe interessava era manter e enaltecer esse status de que ele -- Gomes Ferreira - “É a única figura
publica com coragem para dizer o que deve ser dito e que tem os conhecimentos
necessários para fazer sair Portugal
do atual estado” e, portanto para a cadeia
de televisão SIC era mais importante a sucessão de perguntas, do que as
respostas do Primeiro-Ministro. Por
isso, e antes de acabar o tempo estabelecido para a entrevista, havia que
formular uma e outra, e outra pergunta sem dar tempo ao interpelado de
responder.
.
O Primeiro-Ministro mostrou-se como é: -- um político honesto que
trata de solucionar os enormes problemas que afetam a Portugal e que demasiados portugueses não querem admitir. Um
político que não é um mago, por isso não domina a arte da magia, mas que disse
aos portugueses que “Para pagar a enorme divida deixada pelo governo anterior,
é necessário dispor de dinheiro. Dinheiro que só se pode conseguir mantendo os
impostos altos e reduzindo as pensões e os salários públicos”--.
.
O espectador neutral pode ver
a um entrevistador que pretendia pôr em evidência o entrevistado, tratando de
aflorar esta ou aquela hipotética promessa não cumprida. O Primeiro-Ministro, que sabia bem o programa eleitoral, tratou sem
êxito fazer-lhe ver a Gomes Ferreira,
isto e aquilo, nunca foram promessas realizadas por ele, Passos Coelho.
.
Desta forma o Primeiro-Ministro manifestou, entre outras
coisas, que: -- As pensões vão mesmo depender do crescimento económico e da
demografia. / Eventuais aumentos salariais no sector privado tenham de depender
da produtividade dos trabalhadores, bem como do comportamento da economia
nacional. / "Os governos são julgados em eleições legislativas"/ "Fizemos
privatizações bem sucedidas e contratos de concessão que defendem os interesses
da economia. E isso aconteceu também na área da energia." / "Não
conseguiríamos reduzir o défice do Estado de 10 para 2,5% num ano"
/ "A coligação PSD/CDS apresenta-se às eleições europeias para as
ganhar. Mas em democracia não podemos dizer que só admitimos ganhar" /
"Eu gostaria muito que a taxa de desemprego fosse menor. 14,8% em 2015 é
muito alto. A taxa de desemprego é a coisa mais dramática que temos em Portugal."
/ "Não quis dizer que não respeitava as eleições. O que importa é que se
for preciso pagar um preço elevado para salvar o País da bancarrota eu não me
importo de o pagar"—etc.
.
Em minha opinião, o Primeiro-Ministro, carregou –somente-
sobre os seus ombros a realidade de um país doente ao qual se está a
administrar antipiréticos para reduzir a temperatura. Não enfatizou (talvez
porque lhe foi impossível com o veemente entrevistador) que se tivesse seguido
com a política da anterior legislatura, Portugal
hoje estaria muito pior do que Grécia
e com muito menos expectativas. Em matéria de emprego, não defendeu um facto
indiscutível, --Portugal está muito
melhor que Espanha, onde o
desemprego não baixa e a divida pública segue aumentando--. Dois parâmetros que
Portugal está a controlar com enorme
satisfação.
.
Chegados a este ponto da XII legislatura: --que em Portugal as coisas podiam ir ou não
melhor, não depende exclusivamente do Primeiro-Ministro
senão de todos aqueles que formam parte da equipa de funcionários da República. Esta equipa deveria passara
por um controlo de qualidade, porque algumas destas pessoas deveriam apresentar
em algum momento os resultados da sua gestão. Alguns justificam o seu salário
com reuniões e mais reuniões. Como o que prevalece é o interesse de mostrar uma
agenda cheia de reuniões, sem se ter de demonstrar que de tantas reuniões se
obtenham resultados concretos, esse número, o das reuniões, aumenta até que se
chega a situações esquizofrênicas, em que não há tempo suficiente para estudar
os projetos estratégicos para Portugal,
porque a agenda está cheia de reuniões que em alguns casos, não produzem
resultados concretos, que podiam beneficiar ao conjunto dos cidadãos
portugueses.
.
Neste “afazer diário”, além
dos ministros e secretários de Estado,
há instituições regionais que de tantas e tantas reuniões que efetuam, não têm
tempo para recordar que dentro das suas atribuições e competências estão
aquelas que, se se efetuassem compreenderiam levar a cabo projetos criadores de
emprego, que colaborariam com a Segurança
Energética Nacional e seriam bons para o meio ambiente e para o
desenvolvimento rural, colaborando com o aumento do PIB nacional e devolvendo a
esperança aos cidadãos portugueses.
.
Os problemas não se resolvem
pelo mero facto de não se querer admitir que não existem. Cada problema tem um
tratamento específico.
.
O Primeiro-Ministro deve continuar a insistir naquelas suas palavras:
-- “O futuro não é tempo de
facilidades” desconhecendo o seu aviso aos ministros, organismos do Estado e empresas públicas que “não
se podem desperdiçar recursos”.
.
Limitar-se a carregar toda a
raiva da melancolia coletiva portuguesa, sobre o Primeiro-Ministro, sem parar para analisar a responsabilidade que
podem ter os “estados” públicos regionais e aqueles funcionários que formando
parte da estrutura do Estado, não se
comprometem consigo mesmos e com o país para obter o máximo resultado possível
das suas competências, é a demonstração que, como referiu José Gomes Ferreira, com este tipo de atitude se forma parte do
problema.
.
…He
dicho!
.
*Es
Presidente del Instituto Hispano Luso
http://www.jornaldenegocios.pt/economia/politica/detalhe/marcelo_rebelo_de_sousa_passos_coelho_teve_uma_tirada_suicida_na_entrevista.html
ResponderEliminar