jueves, 17 de abril de 2014

Formar parte do problema

*Por Ángel Rico
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Tive a oportunidade de ver com atenção a entrevista que realizou ao Primeiro-Ministro português, Pedro Passos Coelho, o ambicioso e também aspirante a “ministro-primeiro”, José Gomes Ferreira, na SIC. Devo dizer que o cenário me pareceu impecável, com o Primeiro-Ministro sentado em frente do ansioso Gomes Ferreira, somente com as bandeiras de Portugal e da União Europeia, por detrás. A forma de atuar do político fez-me recordar a esses tenistas que se limitam a devolver e devolver bolas desde o fundo do campo, sem arriscar uma aproximação à rede para esmagar o adversário.
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O protagonista desnecessário, --o veemente Gomes--, com um monte de papeis onde estavam as suas perguntas, demonstrou uma e outra vez, que mais do que lhe importarem as respostas do Primeiro-Ministro, ás suas perguntas, o que realmente lhe interessava era manter e enaltecer esse status de que ele -- Gomes Ferreira - “É a única figura publica com coragem para dizer o que deve ser dito e que tem os conhecimentos necessários para fazer sair Portugal do atual estado” e, portanto para a cadeia de televisão SIC era mais importante a sucessão de perguntas, do que as respostas do Primeiro-Ministro. Por isso, e antes de acabar o tempo estabelecido para a entrevista, havia que formular uma e outra, e outra pergunta sem dar tempo ao interpelado de responder.  
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O Primeiro-Ministro mostrou-se como é: -- um político honesto que trata de solucionar os enormes problemas que afetam a Portugal e que demasiados portugueses não querem admitir. Um político que não é um mago, por isso não domina a arte da magia, mas que disse aos portugueses que “Para pagar a enorme divida deixada pelo governo anterior, é necessário dispor de dinheiro. Dinheiro que só se pode conseguir mantendo os impostos altos e reduzindo as pensões e os salários públicos”--.
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O espectador neutral pode ver a um entrevistador que pretendia pôr em evidência o entrevistado, tratando de aflorar esta ou aquela hipotética promessa não cumprida. O Primeiro-Ministro, que sabia bem o programa eleitoral, tratou sem êxito fazer-lhe ver a Gomes Ferreira, isto e aquilo, nunca foram promessas realizadas por ele, Passos Coelho
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Desta forma o Primeiro-Ministro manifestou, entre outras coisas, que: -- As pensões vão mesmo depender do crescimento económico e da demografia. / Eventuais aumentos salariais no sector privado tenham de depender da produtividade dos trabalhadores, bem como do comportamento da economia nacional. / "Os governos são julgados em eleições legislativas"/ "Fizemos privatizações bem sucedidas e contratos de concessão que defendem os interesses da economia. E isso aconteceu também na área da energia." / "Não conseguiríamos reduzir o défice do Estado de 10 para 2,5% num ano" / "A coligação PSD/CDS apresenta-se às eleições europeias para as ganhar. Mas em democracia não podemos dizer que só admitimos ganhar" / "Eu gostaria muito que a taxa de desemprego fosse menor. 14,8% em 2015 é muito alto. A taxa de desemprego é a coisa mais dramática que temos em Portugal." / "Não quis dizer que não respeitava as eleições. O que importa é que se for preciso pagar um preço elevado para salvar o País da bancarrota eu não me importo de o pagar"—etc.
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Em minha opinião, o Primeiro-Ministro, carregou –somente- sobre os seus ombros a realidade de um país doente ao qual se está a administrar antipiréticos para reduzir a temperatura. Não enfatizou (talvez porque lhe foi impossível com o veemente entrevistador) que se tivesse seguido com a política da anterior legislatura, Portugal hoje estaria muito pior do que Grécia e com muito menos expectativas. Em matéria de emprego, não defendeu um facto indiscutível, --Portugal está muito melhor que Espanha, onde o desemprego não baixa e a divida pública segue aumentando--. Dois parâmetros que Portugal está a controlar com enorme satisfação. 
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Chegados a este ponto da XII legislatura: --que em Portugal as coisas podiam ir ou não melhor, não depende exclusivamente do Primeiro-Ministro senão de todos aqueles que formam parte da equipa de funcionários da República. Esta equipa deveria passara por um controlo de qualidade, porque algumas destas pessoas deveriam apresentar em algum momento os resultados da sua gestão. Alguns justificam o seu salário com reuniões e mais reuniões. Como o que prevalece é o interesse de mostrar uma agenda cheia de reuniões, sem se ter de demonstrar que de tantas reuniões se obtenham resultados concretos, esse número, o das reuniões, aumenta até que se chega a situações esquizofrênicas, em que não há tempo suficiente para estudar os projetos estratégicos para Portugal, porque a agenda está cheia de reuniões que em alguns casos, não produzem resultados concretos, que podiam beneficiar ao conjunto dos cidadãos portugueses.
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Neste “afazer diário”, além dos ministros e secretários de Estado, há instituições regionais que de tantas e tantas reuniões que efetuam, não têm tempo para recordar que dentro das suas atribuições e competências estão aquelas que, se se efetuassem compreenderiam levar a cabo projetos criadores de emprego, que colaborariam com a Segurança Energética Nacional e seriam bons para o meio ambiente e para o desenvolvimento rural, colaborando com o aumento do PIB nacional e devolvendo a esperança aos cidadãos portugueses.
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Os problemas não se resolvem pelo mero facto de não se querer admitir que não existem. Cada problema tem um tratamento específico.
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O Primeiro-Ministro deve continuar a insistir naquelas suas palavras: -- O futuro não é tempo de facilidades” desconhecendo o seu aviso aos ministros, organismos do Estado e empresas públicas que “não se podem desperdiçar recursos”.
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Limitar-se a carregar toda a raiva da melancolia coletiva portuguesa, sobre o Primeiro-Ministro, sem parar para analisar a responsabilidade que podem ter os “estados” públicos regionais e aqueles funcionários que formando parte da estrutura do Estado, não se comprometem consigo mesmos e com o país para obter o máximo resultado possível das suas competências, é a demonstração que, como referiu José Gomes Ferreira, com este tipo de atitude se forma parte do problema.
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…He dicho!
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*Es Presidente del Instituto Hispano Luso

1 comentario:

  1. http://www.jornaldenegocios.pt/economia/politica/detalhe/marcelo_rebelo_de_sousa_passos_coelho_teve_uma_tirada_suicida_na_entrevista.html

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